domingo, 20 de março de 2011

APRENDER PELO FAZER, PODE SER TÃO DOCE QUANTO BRIGADEIRO...
Texto de: Joselma Gomes (Psicopedagoga Clínica e Institucional)

Não poderia deixar de compartilhar uma experiência com o meu filho que, na sua essência mostra o quanto o aprender pelo fazer é doce e inesquecível.
                No dia 08 de março, incrivelmente é o dia do aniversário do meu filho número 3, atualmente com nove anos (foi um lindo presente do dia da mulher- a legitimidade -). E como nesse ano foi feriado, achou-se por bem não sair. Iríamos ficar em casa. Mas ele queria comemorar, mesmo que fosse só com o bolo juntamente com os colegas. Segundo ele só para fazer o pedido, porque o pedido precisa ser feito no dia do aniversário mesmo”. Tudo bem. Fomos então providenciar o bolo, mas também outras delícias que em aniversário de criança é aguardado com muita alegria – ex: o brigadeiro.
                Quando se é educador em tudo se quer fazer um movimento de aprendizagem e em tudo se ver a possibilidade do aprender! Não foi diferente com o brigadeiro! Comprei latinhas de brigadeiro prontos somente para serem enrolados para que nós dois fizéssemos isso. Pura diversão! E foi aí que ele me disse:
_ Mamãe eu sei fazer brigadeiro! Pode deixar!
E foi falando todo o processo que era necessário – lavar as mãos, secar, passar margarida na mão para não grudar, enrolar botar no chocolate granulado, colocar na forminha e depois, só comer. Certinho. 
_Eu aprendi a fazer na escola.
_Legal filho! E quem foi a professora que lhe ensinou heim? – Eu achando que ele ia lembrar-se da professora... Que prepotência.
_ Não sei mamãe... Não lembro... -
Foi falando isso com o olhar direcionado para cima, na tentativa de lembrar quem era a professora que havia lhe ensinado.
Pasmem! Quem havia ensinado a fazer o brigadeiro na sala tinha sido eu. Eu era a professora do segundo ano do Ensino Fundamental. Ele estudava comigo na época.

                Frente a essa pequena demonstração de aprendizagem significativa, é possível perceber o quanto a experiência torna-se muito mais relevante para a criança, do que qualquer outro elemento,  ao ponto de não passar, deixando claro que, no processo de aprendizagem o educador é transitório (até mesmo sendo mãe e filho como você acabou de ver), no entanto, aquilo que se adquire enquanto capacidade é permanente e torna-se recurso para a vida toda.
                E é exatamente nesse ponto que eu gostaria de chegar, ou seja, o valor que existe entre o aprender pelo fazer e o aprender apenas escutando o outro, com práticas superficializadas que em nada envolvem a criança; ressaltar sobre as capacidades que são construídas na simples experimentação. O ato de experimentar junto a um mediador acaba por mover estruturas, que se traduzirão como aprendizagens permanentes, e que serão rechamadas com muita eficiência todas as vezes que o sujeito necessitar, dando a esse sujeito autonomia e tornando-o autor do seu próprio conhecimento.
                Em muitos contextos educacionais, principalmente na Educação Infantil e Séries Iniciais (até o quinto ano, posto que ainda sejam crianças) necessita-se desse modelo de aprendizagem – a aprendizagem pelo o fazer - como forma de tornar esses saberes adquiridos, parte das estruturas mentais do sujeito que aprende, para que, com isso, ele possa fazer um link prazeroso entre o conteúdo sistematizado e a aprendizagem significativa.
                No ato de aprender a fazer um simples brigadeiro, inúmeras aprendizagens são geradas tendo como base os conteúdos obrigatórios. Vejam algumas.
·         Matemática – quanto gastou (adição/subtração), quantos brigadeiros podem ser feitos apenas com uma lata de doce (proporção) relacionar números de convidados com o número de brigadeiro necessários, ou seja, quantos cada um vai ganhar com duas latas de doce enroladas (divisão/ levantamento de hipóteses) cores, sequência lógica de fatos (ordem), formas – esfera – diferente da “bola” (geometria).
·         Linguagem – a fluência do diálogo, a interação, a capacidade de recontar no papel o que foi feito pela criança nas mais diferentes linguagens seja ela na forma de desenhos, grafemas, ou oral (produção textual) vocabulário, desenvolvimento da capacidade de interpretação de dados que até então estavam em latência, sequência lógica de fatos a serem recontados (relatos).
·         Ciências – hábitos higiênicos, cuidados com a alimentação, a ação do organizar, guardar em lugares adequados.
·         História – a história da própria criança, a associação de momentos comemorados culturalmente como comemoração significativa na vida da criança, habitos à mesa.
·         Coordenação motora fina – o fazer na prática (enrolar os brigadeiros).
·         Arte – de criar formatos diferentes, partindo principalmente da imaginação da criança.
·         Valores – ou seja, o ato de valorizar quando estiver em outros contextos, a pessoa que também fez doces iguais, por conhecer o processo, seja no momento de receber
os colegas, saber que cada um é de um jeito, relações intra e interpessoais, enfim...
Com certeza, se houver uma análise mais aprofundada daquilo que essa atividade pode trazer, ver-se-á que irão surgir muito mais elementos nesse conjunto que foi descrito acima. Na verdade, o grande objetivo dessa reflexão é trazer o que se quer ensinar de encontro com o momento da criança traduzindo-se como a linguagem mais próxima da criança nessa fase da vida.
Shore 2000, nos colca que é nessa primeira década da vida que a criança fará todas as suas construções enquanto estruturas permanentes, as demais aprendizagens ao longo da vida virão apenas como acréscimo. Diante disso, fica aqui a dica de uma nova práxis na sala de aula - a PEDAGOGIA DO FAZER - principalmente na primeira década da vida. ( Educação Infantil e Séries Iniciais)
Com certeza a forma futura de pensar, será diferenciada e muito mais rica.
DE VEZ EM QUANDO, FAÇA BRIGADEIRO COM O OLHAR DE MEDIADOR! QUE TAL?


REFERÊNCIA
SHORE, R. Repensando o Cérebro. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2000.

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