sábado, 18 de fevereiro de 2012

Dicas para Pais de Disléxicos

Como qualquer criança, os disléxicos necessitam do apoio dos pais.  Não só para a satisfação das suas necessidades imediatas e físicas, mas também para os ajudar a criar mecanismos para ultrapassar as suas dificuldades.
Usar exercícios criativos que envolvam a memória, tais como recitar poemas infantis em conjunto, ler poemas, utilizar mímica, teatro, falar de imagens, utilizar a acção, os jogos de tabuleiro, jogar a pares, aplaudir as sílabas e cantar músicas, podem ser muito úteis.
Estas são algumas dicas/estratégias que também poderão revelar-se importantes:
  • Incentivar a prática de exercício físico, em que se promova o atirar, capturar, chutar bolas, saltar e treinar o equilíbrio;
  • Incentivar a prática de actividades lúdicas e artísticas, como dança, pintura ou outra que a criança se sinta inclinada;
  • Incentivar o gosto pela leitura,  usando a linguagem dos livros — as imagens, as palavras e as letras — para perceber que os livros podem ser analisados, lidos e desfrutados, vezes sem conta;
  • Mostrar como segurar num livro, de que forma ele abre, onde começa a história, onde é o topo da página e que direcção segue o texto, apreciar as imagens;
  • Promover o aspecto cultural: visitar museus, assitir peças de teatro ou musicais,conhecer outras cidades, etc
  • Ajudar a criança disléxica a aprender a seguir instruções,  por exemplo, “por favor pega no lápis e coloca-o na caixa”, e fazer gradualmente sequências mais longas, por exemplo, “ir à prateleira, encontrar a caixa vermelha, trazê-la para mim”. Incentivar a criança disléxica a repetir a instrução antes de a realizar.

10 perguntas e respostas para entender a dislexia

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Para ajudar a entender melhor a dislexia, conversamos com a Ana Luiza Navas, presidente do Instituto ABCD, e com o neurologista Rubens Wajnsztejn, do Núcleo de Estudos em Aprendizagem da Faculdade de Medicina do ABC.



1. A dislexia é uma doença?
Tecnicamente, sim. Ela se encontra na Classificação Internacional de Doenças e é hereditária. “Mas os especialistas preferem se referir a ela como um transtorno de aprendizagem e não como uma doença, para que o público não a associe com algo que possa ser curado com remédios”, explica a fonoaudióloga Ana Luiza.
2. O que provoca a dislexia?
Todos nós temos uma série de circuitos responsáveis pelas conexões entre as células do sistema nervoso. Nos disléxicos, ocorre uma falha, ainda durante a gravidez, na migração das células que irão formar esses circuitos. Isso vai provocar dificuldade em fazer as informações transitarem de maneira adequada na área cerebral responsável pela leitura e escrita. Por causa disso, a pessoa tem dificuldades em decodificar símbolos.
3. Existe tratamento?
Não há cura e nem remédio. No entanto, ela pode ser tratada com um acompanhamento pedagógico e psicopedagógico, em que a pessoa é ajudada a desenvolver suas próprias estratégias para lidar com as dificuldades na leitura e escrita.
Alguns exercícios ajudam a promover a automatização do sistema de leitura. As pessoas sem dislexia leem em blocos: batem o olho em uma frase e conseguem lê-la. O disléxico precisa desenvolver essa habilidade, porque seu distúrbio faz com que ele precise ler letra a letra. Uma técnica usada para isso é escrever e ler palavras em cartões. Para quem estuda, é aconselhado gravar as explicações do professor durante a aula, já que é muito difícil para um disléxico fazer anotações ou ler os livros.
A tecnologia também ajuda bastante. Disléxicos cometem muitos erros na escrita, e corretores ortográficos são importantes. Softwares de leitura para deficientes visuais também são úteis para economizar o tempo que eles perderiam tentando ler por si mesmos.
4- Quando a dislexia começa a se manifestar?
Geralmente quando a criança entra na escola e começa a ser alfabetizada, mas pode ser antes. Demorar demais para aprender os nomes das letras ou as confundir muito, por exemplo, pode ser sinal de que há algum problema. Mas é preciso cuidado para não confundir isso com as dificuldades normais que existem no processo de alfabetização. Assim, é aconselhado esperar cerca de dois anos após o início dessa fase.
5- Pessoas com dislexia têm dificuldades para aprender?
Apesar de ser chamada de transtorno de aprendizagem, a dislexia diz respeito à questão da linguagem escrita. O disléxico não apresenta dificuldades na linguagem oral e compreende bem o que escuta.  Mas a dislexia pode comprometer outras coisas, como a orientação espacial ou a decodificação de informações gráficas variadas. Eles geralmente não têm dificuldades em entender ou fazer desenhos, porque isso depende de um circuito cerebral diferente. Já o problema em entender símbolos matemáticos têm um nome específico, que é chamado de discalculia. A pessoa pode ter um problema ou outro – ou os dois juntos.
6- Disléxicos têm habilidades especiais nas artes?
Nem sempre. O que acontece é que, quando a dislexia é identificada logo cedo, a pessoa acaba escolhendo áreas de interesse que não envolvem leitura, como as artes ou os cálculos. Não é que tenham um dom para essas coisas: elas acabam desenvolvendo essas habilidades. Mas é importante notar que há escritores disléxicos também. Alguns deles contratam outras pessoas para escreverem o que eles falam e transformar em livros.
7- A dislexia pode piorar com o tempo?
A dislexia não piora, mas pode dar a impressão de que está mais grave quando a pessoa está sob pressão ou quando aumenta a demanda pelas habilidades que a dislexia compromete (se o disléxico é pressionado para ler cada vez mais rápido na escola, por exemplo). Por outro lado, ela pode ser abrandada com o desenvolvimento de estratégias – e quanto mais cedo for identificada, maiores as chances de sucesso. Orlando Bloom, por exemplo, hoje lida bem com a sua dificuldade. Ele declarou à agência de notícia Wenn: “Por causa da dislexia, eu sempre pensei que tinha que trabalhar dobrado para chegar ao mesmo lugar que outra pessoa. E agora, sempre que vou a um encontro de negócios, estou sempre superpreparado. De alguma maneira, acho que sou à grato à dislexia, porque ela me deu direção”.
8- Como deve ser feito o diagnóstico da dislexia?
 diagnóstico é feito a partir de uma avaliação multidisciplinar e o ideal é que ela contenha um neurologista, um fonoaudiólogo, um psicopedagogo e um psicólogo. São feitos testes de leituras e escrita, mas o aspecto emocional e neurológico também é avaliado.
9- Por que algumas pessoas confundem dislexia com déficit de atenção? Pessoas com dislexia têm dificuldade de concentração?
É comum ter as duas coisas ao mesmo tempo. Mas 60% tem só dislexia ou só déficit de atenção.
10- Quantas pessoas tem dislexia atualmente?
Aproximadamente 4% da população mundial tem dislexia. Mas a quantidade e a gravidade dos disléxicos em cada país varia dependendo do idioma e do sistema de escrita usado, que pode facilitar ou a dificultar o entendimento. Segundo Ana Luiza, o português é dos mais fáceis, enquanto o inglês já é mais complicado. O japonês é melhor para o disléxico, porque o idioma associa palavras a símbolos, então não é preciso decodificar várias letras. Isso se reflete no número de disléxicos no país: cerca de 1%, apenas.

FIQUE SABENDO

Identificar dislexia antes de entrar na escola

24/01/2012
Agência FAPESP – Crianças com risco de desenvolver dislexia apresentam diferenças na atividade cerebral observadas por meio de imagens de ressonância magnética, indica um estudo feito no Children's Hospital de Boston, Estados Unidos.
O estudo, feito em colaboração com pesquisadores da Universidade Harvard, será publicado esta semana no site e em breve sairá na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
De acordo com a pesquisa, as diferenças na atividade cerebral podem ser identificadas até mesmo antes de as crianças começarem a ler. Como a dislexia desenvolvimental (de origem genética) responde à intervenção precoce, diagnosticar indivíduos com risco de desenvolver a doença antes ou durante a pré-escola pode ajudar a diminuir futuras dificuldades e frustrações com o aprendizado, dizem os autores.
A dislexia desenvolvimental (que não é causada por trauma no cérebro) afeta de 5% a 17% das crianças. Uma em cada duas crianças com histórico familiar do distúrbio poderá ter problemas de leitura e aprendizagem.
No novo estudo, os pesquisadores, liderados por Nora Raschle, do Children's Hospital, realizaram exames de ressonância magnética em 36 crianças com idade média de 5 anos e meio. Os exames foram feitos enquanto os pacientes faziam atividades envolvendo palavras e seus sons.
Os resultados indicaram que crianças com histórico familiar de dislexia tinham atividade metabólica reduzida em determinadas regiões do cérebro. As regiões com menor atividade do que as do grupo controle (sem histórico do problema) eram as junções entre os lobos occipital e temporal e entre os lobos temporal e parietal.
“Sabíamos que adultos e crianças mais velhas com dislexia têm disfunções nessas mesmas regiões cerebrais. O que o novo estudo indica é que a capacidade do cérebro de processar sons da linguagem é deficiente mesmo antes de as crianças começarem a receber instruções para aprender a ler”, disse Raschle.
O estudo também mostrou que crianças com risco de desenvolver dislexia não apresentaram aumento na atividade das regiões frontais do cérebro, como se vê em crianças mais velhas e em adultos com o distúrbio. De acordo com os cientistas, isso sugere que essas áreas do cérebro se tornam ativas apenas quando as crianças começam a aprender a ler.
“Esperamos que poder identificar crianças com risco de desenvolver dislexia, enquanto ainda em idade pré-escolar, possa ajudar a reduzir as consequências sociais e psicológicas negativas que essas crianças frequentemente têm que enfrentar”, disse Raschle.
O artigo Functional characteristics of developmental dyslexia in left-hemispheric posterior brain regions predate reading onset (doi/10.1073/pnas.1107721109), de Nora Maria Raschle e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS emwww.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.1107721109